Kwan Kun- Um Grande Guerreiro
KUNAN KUN é uma lenda. Seu sobrenome era Kuan e seu nome Wan Cheen. Kun, na china, significa muito respeito. Após rei, esta era a palavra de categoria mais alta em termos de classe. Daí o nome kuan kun, cantonês. Tim Koh-Siy Dol é a época á qual nós referimos. Ao pé da letra significa tempo de estado de guerra.
Defensor da honra, honestidade, fidelidade, integridade, justiça e coragem, por esses exemplos tornou se figura marcante e respeitada nas academias de artes marciais, e também em empresas e em tudo o que envolva integridade, justiça e coragem, principalmente. Se enquadra na categoria dos personagens históricos que, por seus atos e pelo reflexo destes sobre o imaginário popular, ganhou respeito e notoriedade. É um dos personagens mais queridos do folclore chinês, o que faz com que seja um dos mitos mais ricos em histórias, lendas e até escritos e peças teatrais. Kwan Kun é um dos mais conhecidos heróis do chamado Período dos Três Reinos (220 a 280 d.C.), fase da História da China que se passou logo após o fim da Dinastia Han.
A história de Kwan Kun (Guan Gong) remonta há 1700 anos (alguns dizem 2000 anos). Apesar de haver um único rei, o território chinês era dividido em feudos governados por generalíssimos que mantinham o poder e o controle de seu território. Nesse período, onde grande parte do território chinês ainda não era habitado, três ministros dividiam a parte civilizada: Liu Pei, Tchou Tchou e Sin Kin.
Sin Kin governava uma parte pequena no território, enquanto Tchou Tchou tinha a parte maior. Mas era Liu Pei que contava com a ajuda e a amizade do guerreiro Kwan Kun. Na verdade, Kwan Kun era o “irmão de sangue” de Liu Pei, que mais tarde viria a se tornar um dos reis.
Para os chineses, ser “irmão de sangue” significa dar importância e valor como se fosse irmão verdadeiro a um amigo. Após uma cerimônia onde o sangue é misturado e os dois se tornam irmãos, a partir daí, respeito e lealdade passam a ser ponto de honra. O ditado chinês define bem a extensão dessa amizade:
“Pode não ser o mesmo dia que nasce, mas é o mesmo dia que se morre”.
E assim era Kwan Kun, irmão de sangue de Liu Pei, juntamente com Chang Fei.
Era a época de batalhas entre os governantes e Liu Pei, apesar de contar com a ajuda do grande guerreiro Kwan Kun, tinha o exército de Tchou Tchou como oponente. Após uma batalha, Liu Pei viu-se obrigado a deixar seu território, refugindo-se nas montanhas.
Com o afastamento de Liu Pei, Kwan Kun ficou com a responsabilidade de proteger a família de seu irmão, assim como o seu exército. A situação era insustentável e Tchou Tchou queria de toda maneira trazer Kwan Kun para lutar em seu exército. Para isso mandou seu general, que era amigo e respeitava muito o lendário guerreiro, para convencê-lo. Kwan Kun relutou muito, a fidelidade a seu irmão de sangue era indiscutível, mas a responsabilidade para com a família dele, a diferença de poderio militar, a falta de notícias de Liu Pei, fizeram com que Kwan Kun decidisse ganhar tempo até descobrir onde seu irmão se refugiava e, enquanto isso, manter a vida de seus familiares.
No entanto, Tchou Tchou não conseguia ganhar a confiança e nem o respeito do herói. Tentou suborná-lo com festas grandiosas, com o oferecimento de mulheres maravilhosas, roupas lindíssimas e muito, muito ouro. Tudo que Kwan Kun recebia, dava para a família de seu irmão guardar para quando ele retornasse.
Um dia, Tchou Tchou conseguiu dar um presente que despertou a alegria de Kwan Kun – um cavalo garboso, que havia pertencido a um general. Era um animal valioso, numa época que a montaria era a única forma de transporte. O que Kwan Kun pretendia, na realidade, era ter o animal para poder procurar seu irmão. Tchou Tchou ficou frustrado. Após muitos acontecimentos, Liu Pei chegou ao poder. Nesta época a China já estava dividida em 3 reinos (San Co). O período que Liu Pei ficou afastado de tudo serviu para que ele conhecesse o sofrimento de seu povo, já que passou pelas mesmas provações.
Diz-se que certa vez Kwan Kun soube que um malfeitor (filho de um governador local), tinha raptado a filha de um homem bom e honesto. Ela então pertenceria para sempre como propriedade do malfeitor. Mas então Kwan Kun veio, matou o malfeitor, salvou a moça e devolveu-a a seu pai. Sabendo que o governador tentaria se vingar, Kwan Kun refugiou-se em um Templo. As tropas do governador finalmente o encontraram e tentaram matá-lo ateando fogo ao Templo. Kwan Kun permaneceu no Templo enquanto as chamas subiam pelos alicerces consumindo tudo. Subitamente ele passou através das chamas, atacou as tropas de surpresa, dispersando-as com poucos problemas. Depois de buscar conforto próximo a um riacho ele percebeu, no reflexo d’água, que as chamas haviam deixado seu rosto vermelho e brilhante. Com este disfarce ele conseguiu escapar das tropas que continuavam a perseguí-lo.
Outra lenda narra seu encontro com Chang Fei e Liu Pei, do reino de Shu, com quem formaria uma das mais importantes trincas de heróis da antiga China. A caminho da conscrição (convocação para o serviço militar), Kwan Kun teria encontrado Chang Fei, um açougueiro que desafiava qualquer pessoa a erguer do chão uma pedra de 180 kg, sob a qual estava um grande pedaço de carne. Até então, ninguém havia vencido. Aceitando o desafio, Kwan Kun ergueu a pedra e se apoderou da carne, provocando a ira de Chang Fei. Os dois começaram uma briga violentíssima, que só foi encerrada com a intervenção de Liu Pei. Mais tranqüilos, perceberam que tinham muitas coisas em comum e se tornaram amigos. Em um campo de pessegueiros, os três fizeram um juramento de amizade pelo qual se obrigavam a viver e a morrer juntos.
Outra lenda ainda conta que vários exércitos haviam se reunido para destruir as tropas de um general rebelde. Percebendo a futilidade em mandar suas tropas contra o inimigo em número bem maior, o general rebelde escolheu seu melhor lutador e desafiou cada comandante para um duelo homem a homem até a morte. Devido a reputação do lutador rebelde nenhum dos comandantes aceitou o desafio. Um dos comandantes foi então até Kwan Kun e lhe ofereceu uma taça de vinho morno – um convite para que representasse os exércitos. Kwan Kun, sem pensar em dizer não, levantou-se da mesa de jantar, lutou contra o campeão rebelde e voltou antes que o seu vinho e sua comida esfriassem.
Certa vez foi acertado por uma flecha envenenada. Apesar de faltar anestesia, os médicos decidiram operá-lo. Quando a cirurgia começou, ele ao mesmo tempo deu início a uma partida de xadrez. Enquanto a cirurgia prosseguia, Kwan Kun se concentrava mais no jogo. Assim que a cirurgia terminou, Kwan Kun venceu a partida e foi embora.
Como soldado, era conhecido pelo nome de Kwan Yu ou Kuan Yu, era considerado um herói militar, que exibia poder e coragem, era imbatível nas batalhas, leal, bom, generoso e admirado por seus companheiros. Infelizmente, o destino reservou-lhe um desastroso fim. No momento em que as forças de Kwan Kun estavam em batalha com o exército de Wei, batalhões do reinado de Wu iniciaram um ataque surpresa que esmagou o exército de Shu Han. Algumas versões dizem que Kwan Kun foi traído por um de seus soldados, que informou ao inimigo a localização de suas tropas. Contava ele com 52 anos de idade.
A tumba contendo seu corpo estaria localizada em Tangyang e sua cabeça teria sido sepultada em Loyang (Henan), uma localidade situada ao lado do mosteiro de Shaolin. Relatos antigos contam que após a sua morte, Kwan Kun apareceu muitas vezes a seus soldados, o que levou-os a crer que ele seja o santo protetor dos guerreiros.
A figura de Kwan Kun também é colocada nas delegacias chinesas, para que os policiais não se esqueçam que a honestidade deve vir em primeiro lugar.
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